Ao Poeta...

Deve amar-se sem pensar
em abarcar seu olhar
onde mora a imensidão…
Sem pretender decifrar
se ele nos ama ou se não!

Pois nem ele próprio sabe
se tem lugar, se em si cabe,
único, um amor profundo…
Em seu peito alberga o mundo,
paixão feita inquietação!

Prosa, rima, abstracção,
fervem-lhe na alma em cachão,
gelam-lhe as mãos longos frios…
Nas ânsias do coração,
escorre-lhe o sangue em rios!

E corre sem direcção,
sem rumo, na indecisão
de prender-se a uma só voz…
Poeta é um rio sem foz,
sem margens sua ilusão!

Poeta só pode amar-se,
sem pretender sufocar-se
o halo que em versos respira…
Seus silêncios aceitar-se,
dados aos longes que aspira!

Afagando o seu regresso,
sem nunca dizer-lhe “peço”,
mas seu voltar festejando…
Que ao voltar, é porque amando,
traz seu amor inconfesso!

Nutrindo-o de imaginário,
dando-lhe a beber o vário,
mesa e cama, encantamento…
Saciando-o de rimário
na poesia de um momento!

Só do agora lhe servir,
que ele dispensa o porvir
e os sabores de amanhã…
Poeta sorve a maçã
madura… pronta a cair!

Deixem que as musas o amem,
do etéreo não o chamem,
que as pedras do chão lhe doem…
Do sonho não o acordem,
alcem-lhe penas que voem!


Lisboa/Portugal/1996
(In 2ª Antologia do Grupo Ecos da Poesia – ano 2006)

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